A mensagem de Greta Thunberg é muito clara: “Chega de palavras, precisamos de fatos: ajam”. A paladina sueca incita a plateia: “O que queremos?” “Justiça climática!”, gritam os jovens. “Quando queremos?”, pergunta Greta. “Agora!”, gritam os 400 jovens que chegaram de todas as partes do mundo a Milão.
Giacomo Talignani, La Repubblica, 29 de setembro de 2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Com essa mensagem, que reafirma que os jovens estão cansados das palavras vazias dos líderes de todo o mundo, esperando respostas concretas da COP-26, encerra-se o evento de abertura do Youth4Climate, o grande debate sobre o clima entre jovens, que levará demandas e objetivos aos ministros que, a partir do dia 30 de setembro, se reunirão em Milão no Pré-COP-26, o evento que antecederá a grande Conferência sobre o Clima (COP-26) das Nações Unidas, em novembro, em Glasgow, na Escócia.
Se é verdade que muitos dos jovens que chegaram em Milão foram até lá graças a Greta, às suas greves pelo clima e pelo fato de ter tornado global um movimento como as Sextas-Feiras pelo Futuro, também é verdade que o evento milanês nos diz outra coisa: uma espécie de passagem de bastão – na batalha climática – da paladina Greta para Vanessa Nakate, uma jovem ugandesa, fundadora do Rise Up, a mais aplaudida nessa quarta-feira em Milão.
Para ela, foi dedicada uma ovação de pé no fim do discurso e o abraço de Greta que consola Vanessa, em lágrimas, depois de falar. Seu discurso foi comovente e talvez até mais límpido e poderoso do que o de Greta, porque é o relato de quem vive em regiões do mundo onde tudo realmente está mudando rápido por causa da crise climática.
A ativista africana conta que testemunhou a tragédia das enchentes que provocaram vítimas e mortes em Uganda. Ela fala visivelmente emocionada sobre o seu país, que “está mudando rapidamente. A África é a que tem menos emissões, mas paga caro pela crise climática. Não é irônico?”, pergunta ela ao público.
“A África é responsável por 3% das emissões globais, mas sofremos o impacto da crise mais do que outros. Temos inundações devastadoras e secas fortíssimas. Há sofrimento e morte. Em Madagascar, as pessoas morrem de fome. Países como Uganda, Nigéria, Argélia estão sofrendo cada vez mais com o calor e a seca. Mas não é só a África. Pensemos no Caribe, em quem sai das ilhas para fugir, nas pessoas de Bangladesh. Milhões de refugiados climáticos serão criados. Quem vai pagar por tudo isso? Quem vai pagar pelas pessoas que morrem, que fogem, pelas espécies que desaparecem? Por quanto tempo ainda será assim? Os líderes olham e deixam que tudo continue assim, sem realmente intervir na descarbonização. Não podemos mais nos adaptar, como sempre fazemos. É hora de agir, e os líderes devem colocar aquilo que está acontecendo, até mesmo os danos e as mortes pelo clima, no centro das negociações. Os líderes devem parar de falar e começar a agir. Chega de conferências e de cúpulas: ajam. Ajam agora!”, grita Vanessa, antes de explodir em um choro libertador.
Quando Greta Thunberg toma a palavra, ela se dirige imediatamente ao seu público: “Quando eu digo ‘mudanças climáticas’, em que vocês pensam? Eu penso no trabalho. Green job”, diz ela, dando a entender que o combate contra as crises climáticas, se for concreto, pode se transformar em um recurso, em esperança.
Mas, para fazer isso, não adianta mais falar. É preciso agir. “No planet B, no planet bla-bla-bla”, diz Greta, pedindo que os líderes deixem de encher a boca de palavras bonitas. “Green economy? Bla-bla. 2050 net zero? Bla-bla. Climate neutral? Bla-bla”, ironiza a sueca de 18 anos, explicando que “é claro que devemos dialogar, mas há anos estamos falando, e as emissões continuam a crescer. Até agora, os nossos pedidos e ambições foram traídos. Continuam sendo abertas usinas ligadas aos combustíveis fósseis, as emissões estão crescendo, os poderosos não estão nos escutando. Vocês sabem o que é esperança para mim? Esperança é dizer a verdade, agir, não dizer blá-blá-blá. Queremos salvar o futuro: é preciso uma ação drástica, agora!”, diz a jovem ativista em meio aos aplausos de 400 jovens de quase 200 Estados dos cinco continentes.
No fim, o ar que se respira no centro de eventos de Milão é o de um grande evento, que poderá ser decisivo para fornecer a vontade e as ambições dos jovens aos poderosos para desenharem o planeta que eles querem viver, na esperança de convencer os políticos a empreenderem ações concretas para diminuir a pressão da crise climática e parar de usar apenas palavras.
“Não queremos que sejam apenas palavras da boca para fora. É preciso produzir algo que leve à ação”, dizem muitos dos jovens representados, da Uganda à América do Sul.
Pouco antes das palavras de Greta e Vanessa, quem deu início aos trabalhos foi o ministro italiano da Transição Ecológica, Roberto Cingolani, junto com o prefeito de Milão, Beppe Sala. Com eles Patricia Espinosa, secretária executiva da UNFCCC, e Alok Sharma, presidente da COP-26, conectado em videoconferência.
Cingolani explicou que o Youth4Climate será uma oportunidade de debate único e pediu que os jovens continuem se comprometendo e lutando pelo planeta, acreditando na ciência. “Há alguns meses – disse – eu era um cientista no meu laboratório e, pela minha experiência, estou convencido de que, para enfrentar esta crise climática, não há uma solução única, mas várias soluções. Para realmente vencer esta batalha, é preciso trabalhar em novas soluções visionárias: é isso que eu espero de vocês, jovens, e das suas ambições.”
Entre as saudações institucionais do prefeito Giuseppe Sala e as felicitações de Patricia Espinosa, que pediu que os jovens sejam “produtivos”, a mensagem de Alok Sharma, chefe da COP-26, é uma das mais claras: “A voz de vocês – disse ele aos jovens reunidos em Milão – é a mais importante de todas. Eu entendo a frustração de vocês e sinto vergonha pelo modo como a minha geração trouxe à tona este mundo. Mas hoje podemos nos redimir e iniciar ações concretas para manter o Acordo de Paris e proteger o planeta e as pessoas do aquecimento global. Agora é a hora de se comprometer, de agir, de construir o futuro juntos. A COP-26 deverá ser isso e também deverá seguir as indicações de vocês”, explica ele em videoconferência, contando que foram as suas filhas, uma manhã, foram as primeiras pessoas a lembrá-lo do que realmente importa: “Chega de palavras, papai, é hora de agir”.