O presidente ucraniano anunciou a proibição da atividade de onze partidos da oposição. Publicamos aqui a reação de repúdio por parte do Partido Sotsialnyi Rukh (Movimento Social).
Esquerda.net, 20 de março de 2022
Recentemente, o Conselho Nacional de Defesa e Segurança decidiu pela suspensão temporária das atividades de vários partidos políticos ucranianos. A lista inclui tanto os principais partidos da oposição como os menos conhecidos que utilizam as palavras "progressista", "esquerda" ou "socialista" nos seus nomes. O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou-os de "ligações com a Rússia", sem justificar essas acusações com qualquer fundamentação legal.
Compreendemos claramente que pelo menos alguns membros destes partidos, e em especial as suas lideranças:
- minimizaram o perigo das ambições chauvinistas russas e limitaram-se a justificar a agressão, se é que não trabalharam mesmo diretamente com o Kremlin;
- desviaram a frustração popular causada pelas políticas neoliberais dos governos para um combate à imagem caricatural do "Ocidente" a destruir a "civilização eslava";
- propagaram a xenofobia, anti-semitismo, homofobia e ódio.
Assim, mesmo aqueles que utilizam, mas de fato sequestram, a fraseologia de esquerda, na verdade apenas serviram o consenso oligárquico.
No entanto, qualquer possível cooperação das organizações acima mencionadas, bem como dos seus membros individuais, com os imperialistas russos tem de ser investigada e depois julgada em tribunal. As pessoas concretas envolvidas na sabotagem da resistência popular têm de assumir a responsabilidade individual pelas suas ações. Reconhecemos a importância e o simbolismo das liberdades democráticas e acreditamos que as proibições partidárias indiscriminadas não têm lugar na luta de hoje.
Já tínhamos verificado como o governo tentou abusar da situação de guerra para atacar os direitos laborais dos trabalhadores ucranianos, agora as suas ações destinam-se a limitar as liberdades políticas e civis. Não podemos apoiar isto.
Só podemos valorizar os muitos movimentos de esquerda em todo o mundo que já manifestaram o seu apoio, reconheceram o direito da Ucrânia à autodefesa e continuam a pressionar os seus governos para que tomem medidas concretas.
O povo da Ucrânia, e não os capitalistas que sempre o usaram para extrair riqueza e guardá-la no estrangeiro, está hoje a sofrer imensas privações, e merece um amanhã mais justo. O socialismo é a melhor forma de trazer mais justiça à nossa sociedade e de atingir objetivos comuns. É isso que nós, Sotsialnyi Rukh [Movimento Social], defendemos.
Declaração publicada pela Campanha de Solidariedade com a Ucrânia. Traduzido por Luís Branco para o Esquerda.net.