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Canalhas demoram, mas também morrem.

13 de agosto de 2024

Henrique Lemos, da direção nacional da Insurgência

Foi-se Delfim Neto. Hoje acordamos com panegíricos em sua homenagem. Da lembrança de que Lula tenha lhe pedido desculpas passando pelo ato de desprendimento de ter doado sua biblioteca à USP.

Morreu um intelectual e economista heterodoxo, que sempre foi mais um animal político do que um economista. E, por óbvio, devemos reconhecer suas qualidades intelectuais e sua estatura política. Reconhecer isso, não esquecendo nunca que hoje morreu um inimigo do povo brasileiro.

Se veio de origem humilde, traiu sua classe e sempre foi incensado por isso. Sempre foi fiel aos interesses do capital, não importando o preço a ser pago. Uma vez lhe perguntaram se ele tinha paixão pelo poder, e galhofamente respondeu: “minha paixão é pela comida”. E no banquete da vida se sentou nas melhores mesas, cercada dos melhores pratos que o capital lhe retribuiu por seus serviços.

Hoje se vai um serviçal do capital. Um inimigo do povo e da classe trabalhadora brasileira. Repito, não nos esqueçamos disso.

Triste a nota oficial da Presidência da República, que põe na mesma frase o falecido de hoje com uma lutadora da democracia e da redução das desigualdades, que foi a Maria Conceição. Não devemos misturar coisas e pessoas que nunca se misturaram. Se ele fez o “bolo crescer”, foi um ferrenho defensor da manutenção da maior parte do bolo com os de cima, ela por outra banda, sempre foi a mais ferrenha crítica da falácia da concentração do crescimento primeiro, para depois a distribuição.

Nosso país tem perdido grandes nomes do pensamento em geral e da política. Reconhecer que bons quadros se vão, não significa prantear os feitos e biografia de todos que se vão. E, se ficamos tristes com o empobrecimento do debate público em geral devemos nos perguntar se o que somos hoje, se a estatura que temos enquanto militantes e a esquerda social nos faz merecer os inimigos que temos por hoje?

Devemos hoje, como ontem lutar, por memória, justiça e paz. Em especial, para aqueles e aquelas que foram presos, seviciados, torturados, mortos e desaparecidos pelo regime militar.

Delfim foi o mais ferrenho defensor do AI-5. Sua voz no áudio da reunião (que ouvimos com décadas de atraso) até hoje ecoa em nossa mente. Defendeu a necessidade e as vantagens jurídicas que o fechamento do regime traria ao governo. E disso nunca se arrependeu.

Então hoje, lembremos que reconhecer nosso inimigo também nos define, Galeano certa vez disse algo assim. Mas, sobretudo, lembremos dos que tombaram lutando pelo país, pela democracia e pelo socialismo, a esses, PRESENTE, hoje e sempre.

Ao falecido, Delfim Neto, as lembranças do arbítrio e das ignomínias que ele defendeu.